Arquidiocese de Niterói - Vicariato Oceânico

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Missão Palotina no Amazonas- Entrevista com Pe. Artur Karbowy SAC


Neste mês de Outubro que é marcado como mês de oração pelas missões, e pelos missionários, entrevistamos o Pe. Artur Karbowy SAC que foi nosso vigário paroquial  e há dois anos é pároco na Paróquia de Santo Ângelo em Novo Airão-AM.

A Semente: Pe. Artur fale para nós um pouco sobre a missão Palotina no Amazonas, há quanto tempo os Palotinos estão lá?

Pe. Artur: Quando escutamos a palavra Amazônia o que se passa em nossa cabeça? Floresta, rios, muitos bichos, insetos. Muitas vezes estamos imaginando a Amazônia lembrando-se do que escutamos sobre este lugar na escola ou vemos em alguma reportagem na televisão. Infelizmente pensando na Amazônia poucas vezes lembramos que lá também vivem pessoas. Tem muita gente vivendo nas grandes cidades e muita gente vivendo em simbiose com a natureza nas margens dos inúmeros rios. No meio da mata, a 200 km de distância de Manaus encontra-se o pequeno município de Novo Airão. Há trinta e sete anos que os palotinos têm sua missão neste lugar. No ano de 1973 Pe. José Maslanka SAC veio da Polônia para neste lugar anunciar a Palavra de Deus aos povos ribeirinhos. Sempre quando a cheia do rio deixa, Pe. José entra na barca da missão “Santa Maria do Rio Negro” para visitar as comunidades ribeirinhas. Na maioria das vezes passa uma ou duas semanas no barco, visitando as comunidades, batizando pessoas, levando para elas a Boa Nova sobre um Deus que os ama. Para a maioria das comunidades a visita chega só uma ou duas vezes durante o ano, então ele sempre é esperado e recebido com alegria pelos ribeirinhos.
A Semente: Como é a missão especialmente na região da sua Paróquia em Novo Airão. Quais são as suas experiências neste tempo, desafios, dificuldades, conte para nós um pouco sobre esta realidade em que o senhor se encontra.
Pe. Artur: Durante os anos nossa missão em Novo Airão esta crescendo. Muita gente deixou os pequenos povoados na margem do Rio Negro para morar na cidade. Vários padres palotinos vieram também para ajudar o Pe. José. Hoje em dia é a minha vez de tentar aproximar as pessoas de Novo Airão a Deus. Quando cheguei aqui, falando de verdade, não sabia muito sobre o que iria fazer como iria trabalhar. Depois de algumas semanas já sabia que minha experiência de trabalho que tive nas paróquias do Rio de Janeiro e de Niterói, não iria adiantar muito. A Amazônia é diferente. Várias comunidades, na maioria o único aceso é pelo rio, são poucos os recursos, pouca instrução, mas grande fé das pessoas. É essa a realidade que esta fazendo os desafios e a alegria do meu trabalho em Novo Airão. A Fé de muitas pessoas foi transferida do avô para o neto, da mãe para os filhos. Em vários lugares encontram-se capelas de santos. A festa dos santos sempre é motivo para preparar uma bonita celebração. Dia de Santo Ângelo, São Elias, São Alberto, São Francisco, São Sebastião, N. S. Aparecida, N. S. Auxiliadora são momentos nos quais as pessoas mostram seu grande amor por Deus e agradecem pelas graças recebidas através dos santos padroeiros. Na festa dos santos vem muita gente, algumas pessoas precisam de horas ou dias navegando de rabeta (canoa com apenas um motor simples) ou pequeno barco para chegar ao lugar da festa. Durante muitos anos foi criada uma tradição de “levantamento de mastro”. Às vezes tem só um, outras vezes até doze grandes mastros, neles são colocadas frutas e em cima um estandarte com a imagem dos santos. Os mastros ficam na frente da capela por alguns dias. No dia depois da festa eles são derrubados e as frutas são apanhadas pelas crianças e pessoas carentes da comunidade. É um bonito modo de mostrar sua solidariedade com as pessoas que necessitam de ajuda.

A Semente: Como é a participação dos fiéis? Que testemunho o senhor pode nós dar sobre a fé do povo na Amazônia?
Pe. Artur: Em Novo Airão a cada dia, às três horas de tarde, em duas comunidades as pessoas se reúnem para rezar o Terço da Misericórdia. Acho que graças a essa corrente de oração, implorando a Divina Misericórdia, conseguimos fazer várias coisas bonitas. Nos últimos dias eu tive uma boa supressa. Entre vários lugares aonde vamos para celebrar a Santa Missa encontra-se a comunidade de Tumbira. Esta é uma das poucas comunidades onde se pode chegar pela estrada, de Novo Airão até lá são 54 km. O Padroeiro desta comunidade é santo Alberto. Alguns anos atrás a imagem do santo e a capela pegou fogo. Depois disso poucas pessoas iam para a Missa que era celebrada uma vez por mês, embaixo da casa onde morava uma família. Logo depois que eu cheguei, a paróquia estava tentando descobrir onde conseguir uma imagem de santo Alberto. Conversei com Frei Wilmar, um carmelita que trabalha em Manaus. Ele conseguiu trazer primeiro um grande quadro de santo Alberto de Roma e em seguida a imagem do santo. Deixei o quadro em Tumbira conversando com as pessoas para construir uma pequena capela para ter um lugar onde pudesse celebrar a Missa. Depois de um mês minha supressa foi grande. Chegando para celebrar de longe estava vendo uma linda e simples capela. Com o esforço das próprias mãos, pegando madeira e palha, as pessoas construíram uma capela onde mais de vinte pessoas podem sentar-se para rezar e participar da eucaristia. Com a capela pronta chegaram também muitas pessoas para rezar. Algumas famílias precisavam andar quase quatro quilômetros. Que bonito testemunho de sua fé e amor por Deus. Voltando desta comunidade eu pensei, essas pessoas andam quatro quilômetros a pé pelo mato para ir à missa e em vários lugares, as pessoas têm carro ou moram pertinho da igreja e não tem “tempo” para participar da celebração. Precisa-se ter grande fé e amor a Deus para fazer esse esforço.

A Semente: Sabemos que também existe nesta região outras congregações missionárias. Como é o trabalho delas junto com os palotinos?
Pe. Artur: Deste o inicio do ano estamos contando com a ajuda das irmãs. Quatro irmãs de três congregações estão juntando forças para ajudar na formação dos leigos em Novo Airão. Como uma das iniciativas, estamos implantando em vários lugares da paróquia Círculos Bíblicos, convidando as famílias para refletir sobre sua vida pela luz da Palavra de Deus. Descobrindo a Leitura Orante da Bíblia grupos e movimentos estão crescendo e aprendendo como fazer a leitura da Palavra e colocar ela em pratica no dia-a-dia.
A Semente: Agradecemos ao Senhor Pe. Artur por partilhar conosco sobre seu trabalho missionário em Novo Airão. Que Deus abençoe sua vida e sua vocação.
Pe. Artur: Obrigado. Deus abençoe todos vocês.

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