A celebração da solenidade do Sagrado Coração de Jesus, na Igreja é comemorada na sexta-feira seguinte ao segundo domingo depois de Pentecostes, que é exatamente na primeira sexta-feira da semana após o Corpus Christi.
Além da celebração litúrgica, muitas outras expressões de piedade têm por objeto o Coração de Cristo. Não tem dúvida de que a devoção ao Coração do Salvador tem sido, e continua a ser, uma das expressões mais difundidas e amadas da piedade eclesiástica.
A espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus não se baseia somente na devoção popular, em aparições e carismas particulares, mas tem sólido fundamento na Sagrada Escritura, a expressão: “Coração de Cristo” designa o mesmo mistério de Cristo, a totalidade de seu ser, a sua pessoa considerada no seu núcleo mais íntimo e essencial. Jesus apresenta-se a si mesmo como mestre “manso e humilde de Coração”. Pode dizer-se que a devoção ao Coração de Jesus é a tradução em termos cultuais do reparo que, segundo as palavras proféticas e evangélicas, todas as gerações cristãs voltaram para aquele que foi atravessado isto é, o costado de Cristo atravessado pela lança, do qual brotou sangue e água, símbolo do “sacramento admirável de toda a Igreja”.Assim, podemos constatar em diversas passagens bíblicas do Antigo e Novo Testamento, que diversas vezes são citados na Tradição e no Magistério da Igreja:
· Isaías 53,4-5
· Ezequiel 36,25-28
· João 19,34.36-37
· João 20,20
· João 20,27
· Mateus 11,28-29
· João 20,27.29
No Magistério da Igreja, podemos citar que todos os últimos papas tiveram um grande apreço à devoção e culto ao Sagrado Coração de Jesus:
- Em 1899 o Papa Leão XIII fez a consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus, escrevendo a seguinte oração para ser recitada, a cada ano na Festa de Cristo Rei.
“Senhor Jesus, Redentor da humanidade. Olhai por nós, humildemente prostrados diante do vosso altar. Nós somos e queremos ser vossos, e, a Vós, cada um de nós se consagra espontaneamente ao vosso Sacratíssimo Coração!
Muitos tristemente, jamais vos conheceram; muitos desprezando os vossos mandamentos, vos renegaram. Ó bom Jesus, tende piedade de todos, a traí-os para o vossos Santíssimo Coração!
Senhor, sede Rei não somente dos fiéis, que jamais se afastaram de vós, mas também dos filhos pródigos que vos abandonaram; fazei que estes regressem quanto antes à casa paterna, para que não pereçam de miséria e de fome!
Sede Rei também dos que são enganados por falas doutrinas, ou que se encontram divididos pela discórdia. Conduzi-os de volta ao porto da Verdade e a unidade da fé, para que, em breve, haja um só rebanho e só Pastor!
Senhor,concedei a vossa Igreja, segurança e completa liberdade; daí paz e justiça a todos os povos e fazei que, em toda a terra, ressoe uma só voz: Louvado seja o Coração Divino, que nos trouxe a salvação; honra e glória a Ele por todos os séculos! Amém”!
- Em 1920, o Papa Bento XV, promoveu e difundiu a Consagração das famílias ao Sagrado Coração de Jesus no mundo todo.
- Em 1928, o Papa Pio XI, escreveu a encíclica Miserentissimus Redemptor, fundamentando, assim, a teologia e a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, nesta encíclica podemos destacar uma frase curta, porém com uma expressividade sem limite: “O Sagrado Coração de Jesus é a síntese de todo cristianismo e norma mais perfeita de vida cristã”.
- Em 1956, o Papa Pio XII, também escreveu outra encíclica sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus, encíclica esta que teve o título de Haurietis aquas, onde se destacam algumas frases: “ O Coração de Cristo é o sinal natural e o símbolo de seu imenso amor pela humanidade!”; O culto ao Sagrado Coração de Jesus pode ser considerado a mais completa profissão prática da religião cristã, que é a religião do amor!; dentre outras afirmações.
- O Papa João XXIII, era grande devoto do Sagrado Coração de Jesus, tendo sido ele quem idealizou e congregou o Concílio Vaticano II, deixando frases marcantes como: “Em meu apostolado não quero conhecer outra escola pedagógica que não seja a do Sagrado Coração de Jesus!”.
- O Papa Paulo VI, por diversas vezes insistiu sobre o culto e devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus, afirmando em 06/02/1965: “O culto ao Sagrado Coração de Jesus deve ser considerado por todos como uma forma muito nobre e digna do verdadeiro amor para com Cristo Jesus, Rei e Centro de todos os corações. Insistindo novamente ao povo em 14/04/1966, [...] é nosso dever lembrar a atualidade e a urgência deste culto da Igreja ao Sagrado Coração de Jesus!
- O nosso saudoso e querido Papa João Paulo II, em seu pontificado não se cansou de falar sobre o Sagrado Coração de Jesus. Em seus inúmeros discursos sempre incentivava a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, destacamos aqui a sua Mensagem no Dia do Sagrado Coração de Jesus em 11/06/1994: “Os elementos essenciais da devoção ao Coração de Cristo pertencem também de modo permanente à espiritualidade da Igreja ao longo de sua historia, porque; porque, desde o princípio a Igreja elevou seu olhar para o Coração de Cristo, transpassado na cruz, do qual saiu sangue e água, símbolos dos Sacramentos que constituem a Igreja. Junto ao Coração de Cristo, o coração do homem aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único de sua vida, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo. Assim – esta é a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador – sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência, poderá ser construída a civilização do amor tão desejada, o Reino do Coração de Cristo! Portanto, desejo vivamente que prossigais na difusão do verdadeiro culto ao Coração de Cristo! (Mensagem aos Jesuítas em 05/10/1986).
É Importante que permaneça viva nos fiéis a sensibilidade à mensagem que promana da festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus: no Coração de Cristo o amor de Deus fez-se encontro com a humanidade inteira! Trata-se de uma mensagem que é, nos nossos dias, de extraordinária atualidade! Do Coração Crucificado nasce a nova humanidade, redimida do pecado. O homem do ano 2000 tem necessidade do Coração de Cristo, para conhecer a Deus e conhecer a si mesmo! Tem necessidade dele para construir a civilização do amor. Por conseguinte, convido-vos, caríssimos irmãos e irmãs, a olhar com confiança para o Sagrado Coração de Jesus e repetir com frequência, sobretudo durante este mês de junho: “Santíssimo Coração de Jesus, eu confio em vós!” (Mensagem no Dia do Sagrado Coração de Jesus em 11/06/1994).
- Nosso atual e amado Papa Bento XVI, por ocasião dos cinqüenta anos da encíclica Haurietis aquas, que Pio XII, por sua vez, havia escrito para celebrar e recordar a todos o primeiro centenário da extensão a toda a Igreja da Festa do Sagrado Coração de Jesus. O fato de o papa Bento ter desejado escrever uma carta para lembrar justamente essa encíclica ao superior-geral da Companhia de Jesus se deve certamente também a que os jesuítas se consideravam particularmente responsáveis pela difusão dessa devoção na Igreja. Isso também era afirmado por Santa Margarida Maria, segundo a qual esse encargo fora desejado pelo próprio Senhor, que se manifestava a ela. Dessa forma, aproveitando a concatenação dos aniversários, o Papa Bento XVI quis religar-se ao fio ininterrupto dessa devoção que há séculos acompanha e conforta tantos cristãos em seu caminho.
Entre os vastos Documentos da Igreja, podemos destacar um dos mais significativos da reflexão teológica sobre os fundamentos da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, destacando o 1º Congresso Nacional de Espiritualidade do Coração de Jesus, em 1988, com a participação de teólogos, religiosos e bispos de todas as partes do Brasil, sob o lema: “Um Coração novo, para um mundo novo”.
No Catecismo da Igreja Católica, n. 478, encontramos: “Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos e cada um de nós: “O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim” (Gl2,20). Amou-nos a todos com um coração humano. Por essa razão, o sagrado Coração de Jesus, traspassado por nossos pecados e para a nossa salvação, [...] é considerado o principal sinal e símbolo daquele amor com o qual o divino Redentor ama ininterruptamente o Pai Eterno e todos os homens”.
Desde a Idade Média, que foi uma época muito fecundapara o desenvolvimento desta devoção. Homens insignes pela sua doutrina e santidade, como São Bernardo (+1153), São Boaventura (+1274) e místicos como Santa Lutgarda (+1246), Santa Matilde de Magdeburgo (+1282), as Santas Irmãs Matilde (+1299) e Gertrudes (+1302) do Mosteiro de Helfta, Ludolfo de Saxónia (+1378), Santa Catarina de Siena (+1380), aprofundaram o mistério do Coração de Cristo no qual percebiam o “refúgio” aonde acolher-se, a sé da misericórdia, o lugar de encontro com Ele, a fonte do amor infinito do Senhor, a fonte da qual brota a água do Espírito, a verdadeira terra prometida e o verdadeiro paraíso.
Na época moderna o culto ao Sagrado Coração do Salvador teve novo desenvolvimento. No momento em que o jansenismo proclamava os rigores da justiça divina, a devoção ao Coração de Cristo foi um antídoto para suscitar nos fiéis o amor ao Senhor e a confiança na sua infinita misericórdia, da qual o Coração é prenda e símbolo. São Francisco de Sales (+1622), que adotou como norma de vida e apostolado a atitude fundamental do Coração de Cristo, ou seja, a humildade, a mansidão, (Mt. 11, 29), o amor terno e misericordioso; Santa Margarida Maria Alacoque (+1690), a quem o Senhor mostrou repetidas vezes as riquezas do Seu Coração; São João Eudes (+1680), promotor do culto litúrgico ao Sagrado Coração; São Cláudio de la Colombière (+1682), São João Bosco (+1888) e outros santos têm sido apóstolos insignes da devoção ao Sagrado Coração.
Não podemos esquecer as afirmações de Santo Agostinho sobre o Sagrado Coração de Jesus, que dentre várias, destacamos: “A entrada é acessível: Cristo é a porta. Também se abriu para ti quando o seu costado foi aberto pela lança. Lembra o que dali saiu; portanto olha por onde podes entrar. Do costado do Senhor pendurado que morria na Cruz saiu sangue e água quando foi aberto pela lança. Na água está a tua purificação, no sangue a tua redenção”.
Ao contemplarmos a imagem do Sagrado Coração de Jesus, seja ela na tradicional iconografia, onde ressuscitado mostra seu coração: às vezes apontando para o coração – lembrando o gesto e as palavras de Cristo ressuscitado aos apóstolos e a Tomé: “Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé!” (Jo 20,27). , às vezes, abençoando, outras acolhendo de braços abertos - lembrando: Venham a mim todos que estai cansados e eu vos aliviarei. Ele continua eternamente apontando seu coração, mostrando para a humanidade a marca da paixão e morte de cruz, dizendo: “ Olhem, como eu vos amei! Tenham fé! Contemplem o meu coração! Onde resplandece e emana todas as graças. Coração esse que é sempre representado com os sinais da sua paixão e morte! Em volta dele, há 5 elementos simólicos:
- a ferida aberta (a contemplação): é um convite a contemplação; “Vejam!”. Este é o primeiro elemento da espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus: contemplar Aquele que nos amou até as últimas consequências, dando sua vida por nosso amor!
- a cruz (a imitação): em cima do coração, representa o obediência de Jesus à vontade do Pai, porque para o cristão, o amor não é simbolizado por um coração, mas sim por uma cruz! Lembra-nos também: “Quem quer ser meu discípulo, ... tome a sua cruz, e siga-me.
- as chamas (a evangelização): que envolve o coração e a cruz, nos lembra: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como desejaria que já estivesse aceso!”, mas também representa o aspecto fundamental – o ardor missionário do cristão.
- os espinhos (a reparação): em volta do coração de Jesus, representam os pecados da humanidade inteira, pois Ele continua a sofrer por nossas ingratidões, por seus filhos que sofrem todo tipo de violência, injustiça, exclusão. O verdadeiro devoto da Coração de Jesus, procura sempre reparar, com seu amor, sendo fiel a comunhão eucarística, a hora santa de cada primeira 6ª feira de cada mês.
- as gotas de água e sangue que brotam da ferida (a consagração):é do coração transpassado de Jesus na cruz, por meio da água do batismo e do Espírito e por meio do sangue da Eucaristia, que nasce a nova humanidade: a IGREJA.
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