Arquidiocese de Niterói - Vicariato Oceânico

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

São João Maria Vianney

A Igreja celebra no dia 04 de agosto o dia S. João Maria Vianney, proclamado “Patrono dos párocos”, em 1929 pelo Papa Pio XI, o mesmo que o canonizou em 1925. Ele era conhecido como o “cura D’Ars”, um povoado francês, ao norte de Lião onde exerceu o seu ministério sacerdotal. João Maria Vianney (1786-1859) é um daqueles homens aos quais se aplicam as palavras de São Paulo: “Deus escolheu os mais insignificantes para confundir os grandes.” Era um camponês rude, nascido em Dardilly, tinha passado pela tempestade da Revolução Francesa. Teve de se esconder por um certo tempo, por haver desertado do exército de Napoleão em marcha para a Espanha sem entender a gravidade de seu comportamento.
No seminário teve muitas dificuldades para aprender o latim, a filosofia e a teologia; os seus professores, desanimados, deixaram até de interrogá-lo. É uma lástima, disse um deles ao Vigário geral, porque é um modelo de piedade. “Um modelo de piedade? – exclamou este. – Então eu o promovo e a graça de Deus fará o resto.” Em 1815 foi ordenado, mas sem a autorização para confessar, pois o julgavam incapaz de guiar as consciências. Quem poderia imaginar que João Vianney se tornaria um dos mais famosos confessores que a história da Igreja conhece?
Conta-se que ao negar ordená-lo sacerdote, por achá-lo “burrinho”, ele teria dito ao bispo: Sr. Bispo, se Sansão com só uma queixada de burro destruiu o exército dos filisteus, imagine o que o Sr. não poderá fazer com este burrinho inteiro!…” E o Bispo o ordenou, mas tomou o cuidado de mandar-lhe para uma das menores aldeias da França, onde há mais de 25 anos não tinha um padre. Passou antes um ano sob a direção do abade Balley, de Ecully, e este percebeu naquele “bobo iluminado” os carismas da santidade. Depois foi para Ars, como vigário capelão.
O Padre entrou no povoado levando muitos sonhos e esperanças. Nem imaginava quanto iria sofrer ali dentro. Ars era pequena no tamanho, mas enorme quanto aos problemas: muitas casas de jogatina, de prostituição, de vícios, cidade paganizada. A capela estava sempre vazia. O Padre Vianney se pôs a rezar, fazer jejuns e penitência. Visitava as famílias e as convidava para a Santa Missa. Alguns começaram a ir à capela. Então o pároco fundou a Confraria do Rosário para as mulheres, e a Irmandade do Santíssimo Sacramento para os homens. Diante disso, os donos dos bares e organizadores de jogatinas começaram dura perseguição contra o Padre Vianney. Este chegou a dizer, “Ah, se eu soubesse o que é ser vigário, teria entrado num convento de monges”.
Em 1818, Ars-em-Dombes era uma caricatura cristã. A fé não era vista com seriedade. A capela estava sempre deserta, o povo não freqüentava os sacramentos e o domingo era marcado por festas profanas. Aí ele dobrou seu tempo de oração. Ars começou a transformar-se. A capela se enchia. Virou santuário com peregrinações. Pessoas cultas de outras cidade iam ouvir as homilias do Cura d’Ars. Quando algum padre lhe perguntava qual o segredo de tudo aquilo, o Padre Vianney lhe respondia: “Você já passou alguma noite em oração? Já fez algum dia de jejum?”.
O Cura d’Ars acreditava no poder da oração e do jejum e na resposta do bom Deus. Ele tinha em sua mente a exortação de São Paulo Apostolo: “Orai sem cessar” (1 Ts 5, 17). Não era orador, não falava com eloqüência, nas homilias perdia o fio da meada, atrapalhava-se, outras vezes não sabia como acabá-las cortava a frase e descia do púlpito acabrunhado. O mesmo acontecia na catequese. No confessionário, porem, estava sua maior atuação pelo mistério da Providência Divina. No aconselhamento das pessoas falava do bom Deus de forma tão amorosa que todos saiam reconfortados. Não sabia usar palavras bonitas, idéias geniais, buscava termos do quotidiano das pessoas. Possuía somente a desbotada batina que tinha no corpo. E era capaz de dar seus sapatos e meias na estrada se encontrasse um pobre infeliz, com quem trocava até as calças se as do mendigo estivessem piores que as suas. Depois de um tempo, sua fama de santidade e seus carismas foram longe. Até cardeais de Paris iam a Ars se aconselhar com o santo Cura.
No confessionário viveu intensamente seu apostolado, todo entregue às almas, devorado pela missão, integralmente fiel à vocação. Do confessionário seu nome emergiu e transbordou dos estreitos limites Ars-em-Dombes para aldeias e cidades vizinhas. Os peregrinos que desejavam confessar-se com ele começaram a chegar. Nos últimos tempos de vida eram mais de 200 por dia, mais de 80.000 por ano.
Quando chegou à cidadezinha ninguém veio recebê-lo, quando morreu a cidade tinha crescido enormemente e multidões de peregrinos o acompanharam à última morada. Eram cerca de 100 mil pessoas. A Igreja, que pela lógica humana receara fazê-lo sacerdote, curvou-se à sua santidade. A vida do Santo Cura d’Ars confirma o que São Paulo Apóstolo escreveu: “Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus”(1Cor1,27-29).
São dois grandes pensamentos conhecidos do povo católico no mundo inteiro do sábio Santo Cura d’Ars. O primeiro é: “Deixai uma paróquia 20 anos sem Padre e lá os homens adorarão os animais”, e o segundo: “Quem não tem tempo a perder para Deus, perde seu tempo”.
Morreu aos setenta e três anos, a 4 de agosto de 1859. Foi exatamente o que o santo Cura fez e que deixou de lição mais importante para todos os padres; sem santidade de vida, o trabalho apostólico não se estende. O sacerdote é um outro Cristo, “alter Christus”, é seu ministro sagrado entre os homens; São Francisco de Assis achava-se indigno de ser sacerdote e gostaria de beijar o chão onde pisavam os pés de um padre. Através do Padre Jesus continua a sua missão salvífica na terra arrancando os homens do pecado e da morte eterna pelos sacramentos da Igreja. Cristo caminha com ele e o sustenta a cada momento pela graça do sacramento da Ordem, se ele se mantém fiel a seu Senhor. Alguém escreveu que “no sacerdote que vive em plenitude o seu ministério, Cristo se realiza nele e através de suas mãos ungidas continua amando, perdoando, curando, ensinando e alimentando seu povo com o Pão da Vida. No sacerdote idoso, enfermo, que vive suas limitações humanas, Cristo revive com ele a sua paixão e o caminho do calvário carregando sua cruz, sofrendo e testemunhando que “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelo próximo” (Jo. 15,13).

Eduardo Gomes, professor pós-graduado em Ensino Religioso. 
“A santidade é a força mais poderosa para levar os homens a Jesus Cristo” (João Paulo II)

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