Infelizmente, ainda hoje, quase meio século depois do renovador Concílio Vaticano II, do estímulo eclesial à leitura da Bíblia em família, à reflexão continuada sobre a Palavra, ao estudo dos textos em paralelo à vivência cotidiana; muitos de nós; católicos; se limitam a ouvir alguns, na Santa Missa Dominical, e a, de vez em quando, abrir o Livro para “pescar” determinadas linhas. Por vezes, pior ainda, a Bíblia, em edições e capas bonitas, mais serve como decoração de sala. Ainda há alguns irmãos, com ranços de antigos preconceitos, que acham a leitura bíblica intensa “coisa de crente”, expressão tida como sinônima de “protestante”; o que é absurdo; porque, sem que creia na referida Palavra, ninguém, em sã consciência, pode denominar-se cristão e católico. Nossa diferença para com os irmãos da “Reforma” reside em que reputamos a Tradição, o Magistério dos Sucessores de Pedro, como complemento, e esclarecimento, das Sagradas Escrituras.
Todos, sem exceção, devemos ler a Bíblia em toda a extensão. Não “de cambulhada”, como o jornal do dia, ou ata de reunião, ou coisa semelhante. Mas, assimilando as frases, compreendendo as simbologias, captando o que Deus quer nos falar através das mesmas. Se possível, participando de cursos ou palestras ministradas por sacerdotes, ou por leigos habilitados; procurando tirar dúvidas pelo estudo constante e comunitário. Somente assim, compreendemos que tal Palavra foi escrita por homens, embora iluminados pelo Deus Uno e Trino; que muitas expressões que hoje passariam por duras e mesmo violentas e belicosas, eram correlatas à mentalidade que predominava naqueles tempos priscos; que Jesus, sem revogar a lei e os profetas, deu nova interpretação, no precioso resumo “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao Próximo como a si mesmo”; que sem o Amor, de nada adiantará conhecermos “as línguas dos homens e dos anjos”; que seremos julgados com a mesma severidade com que julgamos o irmão ou a irmã; que todos devemos ser um; o que significa rezar e agir pela unidade de todos os cristãos, que existiu no tempo dos Atos dos Apóstolos, mas depois foi rompida por pecados, recíprocos, de vários tipos; que família e casamento entre homem e mulher são valores permanentes; que a vida deve ser defendida desde a concepção; que o Reino, para todos prometido, começa aqui, no combate por uma sociedade justa, fraterna e solidária; que somos chamados a testemunhar o Cristo, em casa, na rua, em qualquer local e ambiente em que nos encontremos. E muito mais.
A propósito, devemos ter cuidado para não cairmos em falsos entendimentos de textos, por leituras divorciadas do conjunto, e sem o esclarecimento pelos ensinos da Igreja. Isto é, evitando os riscos do fanatismo e da intolerância, que tantos males causaram durante séculos e séculos, e que hoje, por lamentável, têm crescido em certas entidades ditas cristãs, sem falar-se de outras escolas de fé. João Paulo II, saudoso Papa que antecedeu Bento XVI, já advertia do rigor da conjugação entre Fé e Razão (Fides et Ratio).
Perseveremos, pois, no estudo da Bíblia. Roguemos a Maria Santíssima, Mãe de Deus e Nossa, sua preciosa intercessão, para vencermos a acomodação e os desvios. Amém.
Luiz Felipe Haddad